“Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto e o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda"

João 15:16

sábado, 6 de agosto de 2011

Extraido do livro “Surpreendido pela Esperança” de Wright (2009, p. 90-91)


[...] Estou convencido de que o clima de ceticismo que, nos últimos duzentos anos, contribuiu para tornar fora de moda ou até mesmo constrangedora a idéia de que a ressurreição de Jesus realmente aconteceu, nunca foi, da mesma forma que não é agora, algo neutro, sociológica ou politicamente. O “golpe de estado” intelectual, promovido pelo Iluminismo, convenceu muita gente de que os “mortos não ressuscitam,” como se isso fosse uma idéia nova, e não uma simples reafirmação daquilo que Homero e Équilo já admitiram como certo. Outras propostas iluministas juntaram-se a esta, principalmente aquela que crê que agora que chegamos à maturidade, não precisamos mais de Deus, e podemos dirigir o mundo da forma que quisermos, usufruindo dele para o nosso próprio benefício, sem interferência externa. Nesse sentido, os totalitarismos do último século não passaram de manifestações variadas de um totalitarismo cultural mais amplo, contra o qual a pós-modernidade tem, agora, acertadamente se rebelado. Quem, principalmente não queria que os mortos ressuscitassem? Não apenas o pequeno grupo de intelectuais ou racionalistas, mas aqueles que estavam no poder, os tiranos sociais e intelectuais; os césares que se sentiam ameaçados por um Senhor que havia derrotado a última arma dos tiramos, a própria morte; os Herodes que ficaram apavorados diante da confirmação que Jesus era o verdadeiro rei dos Judeus. Neste ponto, a crença na ressurreição de Jesus, de repente, deixa de ser um questionamento sobre um estranho evento ocorrido no primeiro século para se tornar uma questão da redescoberta da esperança do século 20. A esperança nasce com a descoberta de que uma visão de mundo diferente é possível, uma visão na qual os ricos, os poderosos e os inescrupulosos não terão, afinal, a última palavra. A mudança de visão de mundo requerida pela ressurreição de Jesus também nos capacitará a transformar o mundo.
Oscar Wilde, em sua peça Salomé, expõe essa verdade claramente na cena em que Herodes recebe a notícia de que Jesus de Nazaré ressuscitou dentre os mortos.
“Ele não pode fazer isso”, diz Herodes. “Eu o proíbo de fazer isso. Não permito que homem algum ressuscite dentre os mortos. Achem esse homem e digam a ele que eu o proíbo de ressuscitar dentre os mortos.”
Observe a fúria do tirano ao sentir que seu poder está sendo ameaçado. É a mesma fúria que vemos nos políticos que querem governar o mundo em benefício próprio, e nas tradições intelectuais que seguem esse mesmo caminho.
A cena seguinte, no entanto, é a mais contundente, tanto para nós como para Herodes. “Onde está esse homem”, pergunta Herodes. “Ele está em toda parte, meu senhor”, responde o centurião, “mas é difícil encontrá-lo”. 

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